O problema é que, quando esses medicamentos são usados por longos períodos, eles costumam causar uma série de encrencas, de enfraquecimento dos ossos a alterações no peso, passando por aumento da pressão arterial, fadiga, estômago embrulhado e muito mais. Lógico, não falta gente em laboratórios do mundo inteiro buscando alternativas capazes de desmontar a inflamação sem fazer tantos estragos.
Agora, um time de três universidades brasileiras — a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a Unifal (Universidade Federal de Alfenas) e a UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia) — parece ter encontrado uma delas, bastante promissora por sinal. Onde? Na Acmella oleracea, o popular jambu que os povos da região amazônica conhecem tão bem.
Nos testes, dois compostos criados a partir do espilantol — a molécula ativa da planta, que faz a língua adormecer em receitas como a do pato no tucupí — mostraram uma eficácia semelhante à de um anti-inflamatório bastante utilizado, a dexametasona. “No entanto, os compostos inspirados no jambu não apresentam tanta toxicidade, podendo ser muito mais seguros”, explica o professor Julio Cezar Pastre, do Instituto de Química da Unicamp.
Novas moléculas
O pesquisador, especialista em química orgânica, já estava na Unicamp há mais de década, vindo de Viçosa, Minas Gerais, quando um colega que estudava o jambu perguntou se ele não poderia ajudá-lo. Isso foi em 2014. “Ele precisava de uma quantidade muito maior do espilantol para fazer alguns ensaios. O que a planta oferecia rendia pouco”, relembra. “Ou seja, ele queria que eu conseguisse um jambu sintético, vamos dizer assim. E, de cara, eu gostei da molécula.”
Para quem não habita o planeta da Química, é estranho ouvir alguém dizendo que gostou ou deixou de gostar de uma… molécula! Mas o professor justifica sua simpatia imediata pelo espilantol do jambu: “É uma molécula pequena, se a gente a compara com a de uma proteína, que é grandalhona. E, nela, há vários grupos funcionais, que seriam como encaixes capazes de ter alguma ação farmacológica no organismo. Isso permite que a gente brinque, como se fosse um Lego”, compara.