As promessas de um novo lar com dignidade se transformaram em revolta para dezenas de famílias do Residencial Cidade Bela, em Nova Mutum. Inaugurado há pouco mais de um mês com grande festa e a presença de autoridades como o governador Mauro Mendes, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro e o prefeito Leandro Félix, o empreendimento do programa Minha Casa Minha Vida virou alvo de uma enxurrada de denúncias por parte dos próprios beneficiários.
Nas redes sociais, moradores relatam problemas estruturais, cobranças abusivas e incertezas sobre os contratos. As críticas se estendem também às autoridades municipais, o prefeito, a primeira-dama Aline Félix e vereadores, que, segundo os moradores, “sumiram” após o evento de inauguração. “Cadê o Leandro Félix, Aline Félix e todos aqueles vereadores que vinham aqui toda semana fazer vídeo pra postar na mídia?”, questionou uma moradora indignada.
A polêmica ganhou força após o portal Alvorada MT publicar denúncias sobre aluguéis irregulares de imóveis no conjunto habitacional, o que é proibido pela Lei Federal nº 11.977/2009, que rege o programa Minha Casa Minha Vida. Prints divulgados nas redes sociais mostram discussões entre autoridades locais sobre o tema.
Em um dos diálogos expostos pelo suplente de vereador Otávio “Xerife” (Republicanos), a vereadora Jaiane Santos afirma que os beneficiários poderiam alugar ou vender seus imóveis, informação reforçada pela primeira-dama Aline Félix. “Ele (prefeito) e a primeira-dama têm que entrar num consenso, né? Ele fala que não pode alugar, ela fala que pode. E aí?”, ironizou uma moradora.
Reclamações sobre valores e qualidade das obras
Os moradores também denunciam valores considerados abusivos e defeitos graves nas construções entregues pela Construtora Paiaguás, responsável pela obra.
A subsíndica Edna Barros Silveira foi uma das primeiras a se manifestar publicamente. Segundo ela, as famílias pagaram entradas de até R$ 20 mil, enfrentam parcelas altas e ainda foram surpreendidas com uma taxa de condomínio de R$ 477, sendo metade subsidiada pela Prefeitura por apenas um ano.
“Pagamos caro, tivemos que dar entrada e agora ainda enfrentamos defeitos por toda parte. O que era pra ser um sonho virou um inferno”, desabafou Edna.
Ela relata que o Bloco G apresenta diversos problemas: chuveiros que não funcionam, descargas com vazamento, vasos entupidos e ausência de medidores de energia nas áreas comuns. No Bloco D, moradores mencionam quedas constantes de energia e tetos de gesso que desabaram antes mesmo da mudança das famílias.
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A subsíndica também reclamou da lentidão da construtora: “O contrato diz que só a construtora pode fazer as correções, sob pena de perdermos a garantia. Mas os agendamentos demoram demais.”
“Parece que a gente não é dono do imóvel”
Outra moradora, Carla, afirmou se sentir enganada com as regras e cobranças. Segundo ela, os moradores precisam até de autorização para se mudar.
“Parece que a gente não é dono do imóvel, mesmo pagando por ele. As taxas são altíssimas e a qualidade é péssima”, afirmou.
Carla também denunciou aumentos sucessivos na chamada ‘taxa de obra’, que teria saltado de R$ 80 para R$ 1.600. “Como é que um programa Minha Casa Minha Vida tem valores desses?”, questionou.
Apesar de reconhecer que adquiriu o apartamento como investimento e morar atualmente em outro imóvel alugado, ela destaca que isso é reflexo da insegurança e descontentamento geral entre os beneficiários.
Clima de incerteza
Enquanto os moradores cobram explicações e soluções, a Prefeitura e a construtora ainda não se manifestaram oficialmente sobre as denúncias. A ausência de respostas claras alimenta a sensação de abandono no residencial que, há pouco tempo, foi anunciado como um marco de inclusão social e dignidade para famílias de baixa renda.
O que era para ser um símbolo de esperança agora é lembrado com ironia e revolta nas redes sociais, muitos internautas, em tom crítico, passaram a dizer:
“Faz o L… de Leandro.”
Nortão MT com Alvorada MT
