24/10/2025

24 de outubro de 2025 12:51

  • Home
  • Esportes
  • Dividir igual não é dividir justo – 23/10/2025 – De Grão em Grão

Dividir igual não é dividir justo – 23/10/2025 – De Grão em Grão

Quando uma equipe de remo entra na água, não importa quem é mais forte ou mais fraco: o barco só avança se todos remarem no mesmo ritmo. Se um remar com mais força, mas fora de compasso, o barco gira em círculos. Quando falamos da divisão de despesas em um casal, a lógica não é muito diferente. O objetivo não é provar quem contribui mais, mas fazer o barco avançar.

Como dizia Aristóteles, “a justiça consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”. A vida a dois, especialmente nas finanças, exige essa mesma sabedoria. No passado, a divisão de despesas nem sequer era um tema relevante. Em boa parte dos lares, o marido era o único provedor ou tinha renda substancialmente maior, e a discussão sobre “quanto cada um deve pagar” raramente surgia.

Hoje, essa realidade mudou profundamente. Em grande parte dos casais, ambos trabalham e ganham de forma parecida —em muitos casos, a mulher tem a maior renda. Surge então a pergunta: como dividir as contas de maneira justa?

A primeira resposta está no próprio regime legal mais comum: a comunhão parcial de bens. Nesse regime, tudo o que é conquistado durante o casamento pertence aos dois. Se a renda de cada um é, no fundo, patrimônio comum, não faz sentido dividir as despesas simplesmente ao meio. O mais justo é contribuir proporcionalmente à renda de cada um. Isso não é uma questão de ideologia —é apenas matemática e bom senso.

Imagine um casal em que um ganha R$ 20 mil e o outro, R$ 10 mil. Se dividirem as despesas de R$ 12 mil igualmente, cada um pagará R$ 6.000. Para quem ganha mais, sobrarão R$ 14 mil; para quem ganha menos, R$ 4.000. Uma divisão igual de contas, nesse caso, resulta em desigualdade de liberdade financeira. Dividir proporcionalmente significa que ambos mantêm margem semelhante para seus desejos e cuidados individuais, evitando ressentimentos silenciosos que costumam corroer relações ao longo do tempo.

Outro ponto sensível é como organizar o pagamento. Muitos casais optam por uma conta conjunta para despesas domésticas. Embora prática, essa solução pode gerar um problema invisível: quando todos pagam, ninguém sente que é responsável. Quando a conta de TV ou internet aumenta, quem vai perder uma tarde renegociando com a operadora? Quando não há um responsável definido, as despesas tendem a se acomodar —e a crescer.

Essa lógica também se aplica quando o casal decide investir junto. Uma conta conjunta de investimentos, que em um primeiro momento parece facilitar a gestão financeira, pode gerar conflitos menos óbvios. Cada pessoa tem um perfil de risco diferente: um pode ser mais conservador, outro mais agressivo. Isso não apenas dificulta a tomada de decisão, como pode causar desconfortos quando os resultados variam. Além disso, surge a dúvida sobre quem será responsável por acompanhar os investimentos, avaliar oportunidades e decidir ajustes. Sem clareza de papéis, a gestão patrimonial em conjunto corre o risco de ficar paralisada ou gerar atritos.

Por isso, uma alternativa mais eficiente é dividir responsabilidades, não apenas valores. Cada um pode assumir despesas específicas —supermercado, condomínio, escola, contas fixas— de forma proporcional à sua capacidade financeira. Isso cria clareza e senso de responsabilidade sobre cada gasto.

A mesma lógica vale para projetos maiores, como a compra de um imóvel. Não é necessário que ambos depositem todo mês na mesma poupança para “juntar” o valor. É mais eficaz que cada um contribua para o objetivo comum dentro de sua proporção, mantendo organização e evitando o risco de que, ao longo do caminho, um sinta que carrega mais peso que o outro.

Dividir bem as despesas não significa buscar uma matemática perfeita, mas construir um modelo que mantenha a equidade, o respeito e a autonomia financeira dos dois. No fim, o barco da relação não precisa de remadores iguais —precisa de remadas sincronizadas.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

TÊNIS

Fonseca reage e vence o 2º set contra Shapovalov no ATP da Basileia; siga Clique…

República Dominicana emite alerta para tempestade tropical após enchentes

Enchentes provocadas por fortes chuvas devastaram regiões na República Dominicana. O presidente do país, Luis…

Homem é preso após esfaquear esposa grávida e enteada durante bebedeira

https://www.sonoticias.com.br/comments/feed/ https://www.estadaomatogrosso.com.br/rss.php https://www.sonoticias.com.br/feed/