30/10/2025

30 de outubro de 2025 04:10

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Corte de juros do Fed expõe medo de desaceleração com inflação alta – 29/10/2025 – De Grão em Grão

Guiar a economia é, muitas vezes, como descer uma serra sob neblina: o motorista pode aliviar um pouco o pé do freio, mas não pode se arriscar a acelerar. Foi assim que o Federal Reserve (Fed) conduziu sua decisão nesta quarta (29/10). O banco central dos Estados Unidos reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4%. O gesto indica menos aperto, mas o comentário na entrevista de Jerome Powell deixa claro que o Fed continua em modo de cautela —quer evitar que a economia pare, mas teme perder o controle da inflação.

A medida estende a nova fase da política monetária americana —menos rígida, porém longe de um estímulo pleno. Como disse Jerome Powell, o Fed se vê diante de “riscos de inflação ainda para cima e riscos de emprego para baixo” —um dilema clássico de política econômica. Diante disso, preferiu adotar o que chamou de “postura mais neutra”, uma forma diplomática de dizer que o banco central tenta manter o carro estável sem acelerar demais.

Segundo Powell, o mercado de trabalho “está gradualmente esfriando”, com desaceleração nas contratações e menor disponibilidade de mão de obra devido à queda da imigração e da participação na força de trabalho. A inflação, por sua vez, voltou a subir levemente e roda a 2,8% ao ano, pressionada por novas tarifas de importação que elevaram o custo de bens —um choque que o Fed considera temporário, mas que pode se prolongar.

Nos mercados, o impacto foi de uma certa frustração. Em um cenário em que as ações negociam em múltiplos médios de precificação bastante esticados, frustração nunca é interessante. As bolsas americanas não reagiram positivamente à redução de juros como seria de se esperar, e as taxas de curto e longo prazo subiram. Um sinal de que os investidores esperavam um discurso mais confiante sobre novas quedas de juros. A interpretação foi clara: o mercado estava mais otimista que o próprio Fed.

Quando os juros caem porque a inflação cedeu e o Fed deseja acelerar a economia, o apetite por risco tende a crescer. Mas o cenário ambíguo atual é diferente. Quando o corte ocorre com o crescimento enfraquecendo e a inflação ainda resistente, o sinal não é claro. As empresas passam a enfrentar o pior dos mundos —menor receita com crescimento menor e custos mais altos pela inflação maior—, o que comprime lucros e reduz o ímpeto de investimento.

Um crescimento mais fraco nos Estados Unidos também costuma reduzir o apetite global por ativos de países emergentes. O que ainda salva o Brasil, neste contexto, são os juros elevados, que continuam atraindo o investidor estrangeiro para a renda fixa. A dúvida é se esse mesmo investidor terá coragem de assumir o risco da bolsa local, onde o humor global pesa mais que o diferencial de taxa. Adicionalmente, o humor do investidor global em Bolsa ainda está concentrado no tema de inteligência artificial. Nesse sentido, as empresas brasileiras não são um alvo óbvio.

Powell fez questão de lembrar que uma nova queda de juros em dezembro “está longe de ser um consenso”. A frase, aparentemente protocolar, foi interpretada como um freio nas expectativas do mercado, que apostava não apenas em um novo corte neste ano, mas também em até três reduções adicionais em 2026. O alerta foi claro: o caminho à frente não está traçado.

Como lembrava Aristóteles, “A virtude está no meio-termo entre dois extremos”. O Fed tenta aliviar a febre sem provocar recaída, e os mercados, atentos, seguem descendo a serra sob o mesmo nevoeiro.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.


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