Milhares de cuiabanos movimentaram os cemitérios da capital neste 2 de novembro, Dia de Finados, transformando os campos-santos em pontos de encontro para a fé, a saudade e a preservação da memória. Desde as primeiras horas da manhã, uma programação especial, que incluiu missas, orações, acolhimento e evangelização, recebeu os visitantes, que também impulsionaram o comércio local de flores e velas. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas tenham passado pelos principais cemitérios da cidade ao longo do dia.
Para garantir um ambiente adequado e acolhedor, a Prefeitura de Cuiabá, por meio da Empresa Cuiabana de Zeladoria e Serviços Urbanos (Limpurb), realizou uma força-tarefa de limpeza e manutenção nos 36 cemitérios públicos da cidade.
Histórias de devoção e afeto
Entre os visitantes, o sentimento de conexão com os entes queridos era palpável. Márcio Leôncio, parte de uma família numerosa de 16 irmãos, é um frequentador assíduo do Cemitério da Piedade. “Venho sempre, e claro, no Dia de Finados também. Sabemos que é o destino final de todos nós, faz parte da vida. Visitar é uma forma de não abandonar, nem mesmo depois da morte”, relatou, expressando a profundidade de seu compromisso familiar.
Aposentada Zelita Meira Bastos também marcou presença, emocionada. “É uma demonstração de carinho e saudade. Este ano perdi minha mãe, mas aqui estão sepultados minha sogra e meu sogro. A data é um momento de reflexão e oração”, disse, com a voz embargada pela lembrança.
Memória e tradição: Do legado histórico aos milagres populares
O Cemitério da Piedade não é apenas um local de sepultamento, mas um verdadeiro panteão da história mato-grossense. Ali repousam figuras ilustres como os ex-prefeitos Manoel de Arruda, os ex-governadores Garcia Neto e Dante Martins de Oliveira, a Baronesa de Diamantino e até um dos fundadores de Lucas do Rio Verde.
Contudo, entre as lápides de personalidades, um túmulo simples atrai uma devoção especial: o do menino conhecido como Facãozinho, falecido em 1971 aos sete anos. Segundo o historiador Francisco das Chagas Rocha, é o local mais procurado por devotos na capital. “Há registros na administração do cemitério de que o túmulo do Facãozinho recebe visitas de pessoas que acreditam em seus milagres. Muitos vêm fazer pedidos, rezar e deixar flores”, explicou Rocha, destacando a fusão de fé popular e história.
O historiador enfatizou a importância cultural desses espaços: “Esses locais guardam parte da história da cidade. Em estados como São Paulo e Rio de Janeiro já existe o Necrotur, um passeio guiado que valoriza o patrimônio cultural e promove o resgate histórico”.
Além da Piedade, os cemitérios do Porto, na Avenida Ipiranga, e do Parque Cuiabá também registraram grande afluxo de pessoas. Para facilitar o acesso, ambos contaram com linhas exclusivas de ônibus e gratuidade na passagem, mediante apresentação do cartão transporte. Muitos visitantes, como Maria Auxiliadora, preferiram chegar cedo para evitar o forte calor e aproveitar a tranquilidade da manhã. “Gosto de vir cedo, o clima é mais ameno e o cemitério ainda está tranquilo. Assim consigo fazer minhas orações com mais calma”, comentou.
O Dia de Finados em Cuiabá mais uma vez reafirmou seu papel como um dia de profunda significância cultural e espiritual, onde a memória dos que se foram se entrelaça com a fé e a tradição dos que ficam.
