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A juíza Alethea Assunção Santos, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, mandou para a 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar a ação penal contra os policiais militares Wekcerlley Benevides de Oliveira, Jorge Rodrigo Martins, Leandro Cardoso e Wailson Alesandro Medeiros Ramos. Eles são suspeitos de forjar um confronto policial para plantar a arma utilizada para matar o advogado Renato Gomes Nery, em Cuiabá.
Os PMs foram presos pela Polícia Civil durante a Operação Office Crimes – A Outra Face, no mês de março, mas foram soltos no fim de maio pelo juiz Francisco Ney Gaíva, da 14ª Vara Criminal da Capital.
Na última quarta-feira (11), o Ministério Público de Mato Grosso (MPE) protocolou denúncia contra o quarteto. No entanto, um erro do sistema fez com que a ação fosse distribuída para a 7ª Vara Criminal da capital.
A ação agora é de competência da Justiça Militar, pois envolve crimes supostamente praticados por policiais militares.
A solicitação foi aceita na quinta-feira (12) e a ação foi redistribuída.
Conforme a denúncia do Ministério Público, ao qual o teve acesso, o grupo de policiais faria parte da organização criminosa criada para matar o advogado Renato Nery. Os PMs, que atuavam no Batalhão de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), era do “Núcleo de obstrução” do crime.
“Responsável especificamente pela ocultação posterior da arma do crime mediante sua inserção em contexto forjado, e por outras ações destinadas a dificultar as investigações”, diz trecho da denúncia sobre o núcleo.
Caso
Renato Nery foi atacado a tiros em 5 de julho do ano passado, enquanto chegava em seu escritório, localizado na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá. Ele foi socorrido e encaminhado ao hospital, mas morreu no dia seguinte.
Seis dias depois do crime, em 12 de julho, aconteceu um confronto, na Avenida Contorno Leste, envolvendo os agentes. Na situação, Walteir Lima Cabral morreu baleado e Pedro Elias Silva e Jhuan de Oliveira, ficaram baleados. O trio teria participado de um roubo horas antes.
Segundo o MP, o confronto foi forjado, já que a vítima do roubo disse que viu apenas um dos autores do crime armado, enquanto o outro apenas simulou estar armado. Além disso, a perícia constatou que não foram encontradas perfurações de disparos em nenhum dos veículos envolvidos no confronto que teria sido forjado – nem na viatura policial, nem no Gol em que os três autores do roubo estavam.
“O que seria implausível caso tivesse havido, de fato, uma troca de tiros entre os ocupantes do Gol e os policiais. Não foi identificada pela perícia nenhuma situação de risco efetivo que caracterizasse um confronto armado real como o descrito na versão policial”, afirma a denúncia.
Outro fato que também chamou a atenção foi de que a arma, uma glock calibre 9mm, foi entregue nas mãos da Polícia Civil por Jorge Rodrigo Martins, e não colhidas na cena dos fatos, como deve ser o procedimento padrão.
“Essas conclusões do Ministério Público, no referido processo, corroboram fortemente o entendimento de que não houve confronto real, mas sim uma execução deliberada pelos policiais, seguida de inovação artificiosa da cena do crime para encobrir tanto esse homicídio quanto outros crimes anteriores”, acrescenta o MP na denúncia.