Dias antes, segundo as fontes brasileiras ouvidas pelo UOL, o Palácio do Planalto havia entendido que o americano não mediria esforços para chantagear um país. Quando o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou que não iria receber os aviões de deportados como os EUA queriam mandar, com os cidadãos acorrentados, a Casa Branca adotou duras sanções contra o governo de Bogotá e tarifas comerciais. A região toda estava avisada. A opção do Brasil foi convocar o diplomata americano em Brasília e sugerir a criação de um grupo de trabalho para resolver a celeuma de forma conjunta. A tática, na avaliação do governo brasileiro, funcionou e evitou que o tema transbordasse.
“Reciprocidade”
Em Brasília, no entanto, a preocupação era tentar entender o que os americanos queriam no campo comercial. Por semanas, Trump afirmou que adotaria tarifas recíprocas contra todas as economias do mundo. Mas, no caso brasileiro, o que existia era um saldo favorável aos americanos em mais de US$ 1 bilhão.
A Casa Branca estipulou que o seu novo regime tarifário entraria em vigor em 2 de abril, abrindo caminho para que dezenas de governos solicitassem reuniões para iniciar uma negociação. A ameaça contra o Brasil ficou clara quando, em 13 de fevereiro, o governo Trump divulgou o que seria uma indicação da lógica de suas tarifas, citando especificamente as barreiras ao etanol americano no mercado brasileiro como um exemplo do que teria de ser corrigido.
A partir de fevereiro, o governo Lula e entidades empresariais passaram a enviar documentos e argumentos para tentar convencer a Casa Branca de que não existia motivo econômico ou comercial para as barreiras. No espaço de um mês, três reuniões foram feitas entre os dois governos, inclusive com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O Brasil ainda afirmou aos americanos que, no lugar de retaliações ou decisões de recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio), privilegiaria a negociação. Queria mostrar boa-vontade. Sugeriu, inclusive, abrir o mercado de etanol nacional, com a condição de que houvesse uma redução de tarifas ao açúcar brasileiro.
Entretanto, o que ficava cada vez mais claro aos diplomatas brasileiros era de que não parecia haver nenhum argumento econômico que criasse algum tipo de interesse por parte dos americanos. Já pairava no ar naquele momento a suspeita de que o problema não era comercial.