Houve uma época em que acompanhar o enredo de novelas da Globo era sinônimo de lazer na minha casa. Depois de um longo período de “abstinência” dos folhetins, uma mistura de nostalgia com curiosidade me leva para frente da TV para ver o remake de “Vale Tudo” quando possível.
Para além da atualidade da trama, que envolve ambição desmedida, inversão de valores e corrupção —assuntos que infelizmente não saíram de moda nos últimos 40 anos—, a isca que me fisgou foi o protagonismo negro, coisa inédita na televisão brasileira até bem pouco tempo.
Em 2025, as duas personagens principais da “novela das oito” — Raquel e Maria de Fátima— são interpretadas por atrizes negras (Taís Araújo e Bela Campos, respectivamente). Além disso, atores pretos e pardos foram escalados para viver personagens que ajudam a ressignificar o lugar do negro no Brasil pelas demonstrações de consciência racial e social.
Acompanhar em rede nacional a história de uma cozinheira preta que empreende e se destaca como self-made woman é coisa que mexe com a cabeça das pessoas numa sociedade onde as mulheres negras são as mais afetadas pelas desigualdades de todo tipo.
Nas últimas semanas, duas cenas de lavar a alma chamaram atenção pela atitude das personagens Eunice (interpretada por Edvana Carvalho) e Raquel diante da manifestação explícita de racismo, discriminação e preconceito da toda poderosa Odete Roitman (Débora Bloch).
Ver uma costureira negra confrontar uma empresária branca e bilionária para defender a filha vítima de racismo é um estímulo à coragem, à altivez, à autoconfiança e ao amor-próprio de milhões de pessoas pretas e pardas rotineiramente discriminadas e humilhadas pela cor da pele. O mesmo vale para o sopapo dado pela cozinheira depois que a grã-fina lhe mandou sair pela porta dos fundos de um hotel cinco estrelas. Em tempo: não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor (Malcolm X).
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