A Agência Pública fez um levantamento do nome de juízas e advogadas cuja competência é altíssima para o STF. No total, 13 nomes femininos. Todas possuem carreiras mais técnicas do que as de Messias e Pacheco.
O feminismo que busca a emancipação de homens e mulheres das garras do machismo sabe perfeitamente que Flavio Dino é um nome melhor do que o de Janaína Paschoal para qualquer cargo público. O debate, jogado em termos tão simplórios como vem sendo, serve apenas à perpetuação do machismo e ao feminismo de ocasião.
Não é novidade para ninguém que o presidente Lula reproduz machismos e misoginia. Também não deveria ser surpresa que, mesmo sendo um machista bastante comum, do tipo que acha adequado colocar mulheres em redomas e elogiá-las por traços físicos, ele parece escutar o calor que vem das ruas. Por isso defendo que nos manifestemos vocalmente. Correlação de forças a gente faz assim também. E Lula já mostrou que sabe aceitar transformações pessoais. Lula 3 é seu governo com maior número de mulheres em situação de poder. Lula não está mudando porque é um cara bacana: está mudando porque é capaz de escutar o que estamos dizendo.
Se indicar Pacheco ou Messias, Lula terá agido movido por sua agenda identitária. Homens brancos e heterossexuais compõe uma identidade, e essa identidade manda no Brasil em todas as instâncias. Pedir uma mulher no STF é pedir que a correlação de forças na mais alta corte comece a ser equilibrada.
Se Lula vencer as próximas eleições poderá indicar mais dois ou três nomes. Se conseguisse compreender toda a potência do feminismo, colocaria no STF mais três ou quatro mulheres com consciência de classe, raça, de sexualidade e gênero. Mulher negras, mulheres trans, lésbicas. Teríamos, ao fim de um possível quarto mandato, revolucionado o sistema judicial na medida em que a composição da mais alta corte aponta caminhos e chacoalha estruturas. Caso insista em colocar seus amigos para dentro do STF, reforçando o pacto da masculinidade, Lula estará prestando um imenso desserviço ao país. E, se não houvesse tantos nomes de mulheres com currículos adequados à vaga, mulheres com consciência social e técnica apurada, talvez pudéssemos até aceitar passivamente Messias ou Pacheco. Mas não é o caso. Bem longe disso, aliás.
