E, segundo, porque em um mercado em que, sei lá, uns 90% dos chefões de criação das agências de publicidade são homens (se é que não é mais) é preciso reforçar a contratação de uma mulher para o cargo.
Outsider. Vocês sabem que um bom criativo publicitário faz você acreditar em qualquer história. A gente como jornalista está sempre tentando se desviar do charme desse povo, tentando ficar com os pés bem firmes no chão (leia-se conversar com um e com outro para tentar saber o que é ou o que não é). Na semana passada, sentei longamente para bater um papo com a Yuri e fiquei com um pensamento: hã, acho que tem coisa diferente aqui. A começar pela história de sua carreira.
Filha de empregada doméstica, vem lá de São Miguel Paulista, fez Letras na faculdade, começou a vida profissional como atendente das lojas Renner (“Tudo o que eu aprendi sobre gente, aprendi nas Lojas Renner”, me disse a Yuri, que agia como um algoritmo antes mesmo de a gente saber o que era um algoritmo).
Depois, calhou de ela ser recepcionista de uma agência de propaganda. Por pura sorte, uma peça caiu na sua mão e ela demonstrou o quanto sabia de português e passou a trabalhar como revisora por meio período. Depois, veio a produção, depois, a redação, e assim foi. Em cada cargo, ela teve que aprender a trocar os pneus com o carro em movimento. Passou por várias agências, entre elas Africa e Mutato (só lembro dessas agora, mas tiveram outras). Na Africa, foram duas passagens. Na segunda, foi para liderar a conta da Vivo, e ela mesma conta que não deu match.
Por todas essas características, Yuri se considera uma outsider. Além disso, sua carreira sempre foi mais ligada à publicidade para redes sociais (ela é de social) e não desse líder criativo clássico que faz as grandes campanhas tradicionais. Tanto que em algum momento ela foi parar no Facebook (parece que a comida é boa lá) e antes de chegar à DM9 foi líder criativa no TikTok. Ela ajudava as marcas a criar peças para a rede. “Você não precisa dançar, precisa encontrar sua comunidade, seu jeito de conversar.”
Um CMO de uma marca importante e que trabalhou em parceria com Yuri nessa fase diz que é justamente isso que a faz fugir da lógica antiga da publicidade ainda comum em parte do mercado de agências (palavras dele, não matem o mensageiro) e que, por esse motivo, está ansioso para saber o que vai dar na DM9.