Invocar o caso em que Trump reduziu temporariamente tarifas impostas à China, já durante negociações com Pequim, o que não aconteceu logo em seguida ao encontro com Lula, também parece um certo exagero. Obviamente, o Brasil não tem o peso da China, nas relações de poder político consideradas por Trump — e muito menos no campo econômico.
Para ganhar o jogo no final, Lula terá, em primeiro lugar, de derrubar tarifas. Sem isso, a química com Trump não terá valor algum.
Ampliar o placar exigira conseguir retirar as sanções a autoridades brasileiras. Um olé, com o jogo já ganho, incluiria receber a incumbência de mediar o conflito com a Venezuela (e agora também com a Colômbia), afastando as ameaças americanas de intervenção na América do Sul.
Tons diferentes
O tom das declarações dos dois presidentes depois da reunião no fim de semana, embora coincidindo nas mútuas palavras simpáticas, teve diferenças. Enquanto Lula foi mais enfático nas afirmações de que um acordo comercial será obtido “em poucas semanas”, Trump concordou que poderá haver um acordo, mas foi evadido sobre as tarifas. “Não sei se algo vai acontecer, vamos ver”, disse.
Um elemento favorável a Lula e ao Brasil, de todo modo, deve entrar em campo, no segundo tempo do jogo que Lula e Trump estão jogando. A bola foi passada a negociadores dos dois lados, mas agora concentrados na área do comércio e da economia.
Fato concreto é que, nesta segunda-feira (27), ainda em Kuala Lumpur, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o Representante Comercial da Casa Branca, Jamieson Greer, se reuniram com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, o secretário-executivo do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços), Marcio Rosa, e o embaixador Audo Faleiro, assessor de Lula para assuntos internacionais.
Interesses convergentes
De novo, não houve anúncio de qualquer medida prática em relação às tarifas e os demais atuais contenciosos entre Brasil e Estados Unidos. Não há dúvida, porém, que as negociações avançaram, com a definição de uma agenda de conversações.
Na entrevista que Lula concedeu à imprensa, antes do jantar de gala em sua homenagem oferecido pelo governo da Malásia, o chanceler Vieira anunciou que EUA e Brasil concordaram em trabalhar para construir um acordo satisfatório e que a próxima etapa seria em Washington.
Na mesma entrevista, o secretário do MDIC afirmou que os negociadores americanos foram orientados a “celebrar um acordo comercial com o Brasil em poucas semanas”. A declaração de Elias Rosa provavelmente serviu de base para Lula anunciar que, “se depender de mim e de Trump vai ter acordo”.
