Mais uma vez os aposentados são vítimas de escândalo, ao que tudo indica, de corrupção. Foram lesados passivamente, sem ter colaborado com o prejuízo que lhes afetará no futuro. No centro do escândalo está o banqueiro-playboy Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, que foi preso e contra quem pesa forte suspeita de fraude com apadrinhamento de políticos.
As transações bancárias atingiram regimes previdenciários de servidores públicos municipais e estaduais. Ao menos 18 entidades de previdência investiram R$ 1,87 bilhão em CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que prometiam rentabilidade acima da média do mercado, operação viabilizada graças à ingerência de políticos nos fundos previdenciários.
O caso do Master não é de alta complexidade nem inusitado. Um investidor minimamente prudente saberia que a proposta do banco era atípica, ao ofertar CDBs com rendimento de até 140% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
A estratégia de superestimar é bem antiga. Nos anos 2000, antes mesmo do Banco Master, a Avestruz Master se notabilizou como fraude financeira em forma de pirâmide que enganou investidores com a promessa de lucro alto, a partir da criação de avestruzes, alavancada por contratos de compra e venda. A diferença aqui é que o Banco Master trocou avestruzes por CDBs mirabolantes.
No livro “Fraude nos Fundos de Pensão”, este autor faz uma análise sobre a artimanha da sobreprecificação em ativos mobiliários como isca para atrair fundos previdenciários, com o apoio de políticos. Exemplo foi a operação Greenfield e o estrago ocasionado nos mais afortunados fundos de pensão do país: Previ, Postalis, Funcef e Petros.
O crescimento vertiginoso de Vorcaro é um déjà vu de outras fraudes financeiras envolvendo o sistema de proteção social.
O golpe de mestre que facilitou a abertura da porteira para investidores embarcarem na promessa do Banco Master foi a amizade do seu presidente com políticos graúdos.
Embora as entidades previdenciárias tenham conselho deliberativo e comitê de investimento, não é incomum a pressão política afastar o bom senso, a legalidade e levar a investimento malsucedido. A propósito, dois gerentes da Caixa Econômica Federal perderam seus cargos após se oporem à compra de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master.
O perfil dos fundos previdenciários que apostaram no Master é eclético e na maioria em déficit financeiro. Vai de entidades previdenciárias de grande porte a cidades nanicas do interior do país.
Do R$ 1,86 bilhão investido, cerca de R$ 970 milhões foram direcionados em letra financeira com recursos do Rioprevidência, que fechou o ano de 2024 com déficit financeiro de R$ 17 bilhões. Em nota, a autarquia justificou que “a descoberta de fraude dessa monta e dessa gravidade no Banco Master atinge não apenas o Rioprevidência mas milhares de investidores”.
Com um déficit financeiro de R$ 6,9 bilhões, o Amprev (Amapá Previdência) foi outro que gastou R$ 400 milhões. Em nota, explicou que “os recursos que garantem os benefícios permanecem preservados e sob gestão responsável”.
Além de previdências estaduais, em tese mais fortes, cidades com menos de 100 mil habitantes entraram na farra.
É o caso do fundo previdenciário da cidade de Cajamar, em São Paulo, com apenas 92 mil habitantes, que fechou o ano de 2024 com R$ 34 milhões de superávit financeiro. No entanto Cajamar praticamente raspou suas reservas ao investir R$ 87 milhões no Master.
Com a liquidação do Master, a aventura financeira vai propiciar onda de calotes. Esses fundos previdenciários, que já não gozavam de boa sustentabilidade financeira, vão amargar mais esse prejuízo. Em breve, novas reformas previdenciárias vão surgir sob a justificativa de que as contas não fecham.
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