A Fuvest deste ano, que terá sua primeira fase aplicada no próximo dia 23, será a primeira a cobrar apenas obras de mulheres como leitura obrigatória aos estudantes que querem entrar na Universidade de São Paulo.
A decisão, anunciada em novembro de 2023, provocou forte impacto tanto em debates educacionais —houve até abaixo-assinado de docentes contra a medida— quanto no mercado editorial.
Isso porque há uma evidente explosão nas vendas quando uma autora tem seu livro adotado pelo vestibular da maior universidade do país, conforme atesta o Ranking Universitário Folha.
Dos 9 livros cobrados na lista deste ano, 3 estão em domínio público —ou seja, a autora morreu há mais de 70 anos e o livro pode ser publicado por qualquer editora— e 3 têm suas autoras ainda vivas. A mais famosa é Conceição Evaristo, que aparece com seu romance mais recente, “Canção para Ninar Menino Grande”.
O livro pertence à editora Pallas desde novembro de 2022. No primeiro ano após seu anúncio como leitura obrigatória da Fuvest, as vendas foram 45% mais altas que no mesmo período do ano anterior. Nos 12 meses seguintes, o salto foi de mais 150%.
A moçambicana Paulina Chiziane aparece com seu livro de estreia, “Balada de Amor ao Vento”, publicado no Brasil em dezembro de 2022 pela Companhia das Letras. Bem menos conhecida que Conceição apesar do prêmio Camões na estante, Paulina viu as vendas de sua obra saltarem 940% na comparação anual de 2023 e 2025.
Mesmo outro romance mais adorado da mesma editora, “As Meninas”, da paulista Lygia Fagundes Telles, teve um aumento de 340% nas vendas no mesmo intervalo.
A angolana Djaimilia Pereira de Almeida lançou seu “A Visão das Plantas” em março de 2021. O romance vendeu 150% a mais nos 23 meses transcorridos após o anúncio da Fuvest ante os primeiros 33 meses de vida do livro no Brasil.
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Mas não é por causa da dominância feminina na lista que os alunos precisam esperar uma prova radicalmente diferente, diz o diretor-executivo da Fuvest, Gustavo Monaco, em entrevista à coluna.
O professor lembra que o vestibular dos últimos anos já trabalhou bastante com a intertextualidade e a literatura comparada com autores que devem ser estudados no ensino médio —então não é como se o aluno pudesse ignorar a existência de clássicos como Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade.
Monaco está à frente do vestibular da USP desde 2022 e capitaneou a mudança na lista de leituras obrigatórias. “Não houve nenhuma intenção política, mas de trazer à luz outras autoras”, afirma, ressaltando que críticas à decisão foram bem recebidas e provocaram reflexão. “Mas estamos convictos de que fizemos um movimento interessante para a literatura brasileira e de lingua portuguesa.”
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Aliás, o diretor da Fuvest aponta que a banca de avaliação da prova será igualitária entre homens e mulheres. E adianta que também serão paritárias as leituras obrigatórias para ingresso na USP de 2030 a 2033 —só foram divulgadas até agora as listas de livros até 2029. Haverá cinco autoras e quatro autores na Fuvest 2030 e 2031, e o contrário nos dois anos seguintes.
A cobrança exclusiva de mulheres acontece na prova da semana que vem e nas duas seguintes. Já no vestibular para entrada em 2029, voltam escritores como Machado de Assis e Erico Verissimo.
Monaco adianta que as listas seguintes, até 2033, incluirão novos autores como João Cabral de Melo Neto e José Saramago. E também diz que as próximas provas voltarão a exigir a leitura de “gêneros literários que há algum tempo não apareciam”, como, por exemplo, peças de teatro.
Veja as próximas listas de leituras obrigatórias da Fuvest
Fuvest 2026
“Opúsculo Humanitário” (1853) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“Caminho de Pedras” (1937) – Rachel de Queiroz
“O Cristo Cigano” (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“As Meninas” (1973) – Lygia Fagundes Telles
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Fuvest 2027
“Opúsculo Humanitário” (1853) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida
“Caminho de pedras” (1937) – Rachel de Queiroz
“A Paixão Segundo G.H. (1964) – Clarice Lispector
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Fuvest 2028
“Conselhos à Minha Filha” (1842) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“João Miguel” (1932) – Rachel de Queiroz
“A Paixão Segundo G.H.” (1964) – Clarice Lispector
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Fuvest 2029
“Conselhos à Minha Filha” (1842) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Dom Casmurro” (1899) – Machado de Assis
“João Miguel” (1932) – Rachel de Queiroz
“Nós Matamos o Cão Tinhoso!” (1964) – Luís Bernardo Honwana
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Incidente em Antares” (1970) – Érico Veríssimo
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
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