09/06/2025

9 de junho de 2025 08:57

Search
Close this search box.

Justiça e liberdade – Alexandre Garcia

Meu netinho de quatro anos veio visitar-me neste carnaval e a primeira pergunta foi se Brasília tem Estátua da Liberdade. Respondi que sim; que iria lhe mostrar, na Praça dos Três Poderes. Pensei na estátua de Têmis, a deusa da Justiça, diante do Supremo. Mas depois desisti. Lembrei de Débora, a cabeleireira, há dois anos presa, a despeito de ter dois filhos menores, por escrever com batom lavável “perdeu, mané”, na base da estátua. Poderia essa justiça representar também a Liberdade? Também veio à memória o Clezão, que não teve a quem recorrer e foi chamado pelo Altíssimo, e tanta outra gente que não destruiu, não quebrou, não rasgou, não sujou, e foi condenada embora tenha apenas se manifestado, como garante a Constituição. Resolvi não mostrar a estátua a meu neto, para não causar confusão na cabeça dele. Mais alguns anos e ele poderá conhecer o registro histórico do que aconteceu no Brasil nesses tempos tão estranhos.

Enquanto isso, saúdo, como todos os brasileiros, a primeira vitória do cinema nacional no Oscar com o melhor filme estrangeiro para Ainda Estou Aqui, que retrata um episódio desencadeado em janeiro de 1971, de arbítrio, perseguição, autoritarismo. Exato meio século depois, o mecanismo de arbítrio, autoritarismo, perseguição, voltou e ainda está aqui. O filme aumenta a indignação da cidadania, percebendo que o acontecido no passado não serviu para evitar repetir erros históricos. Os constituintes de 1988 cuidaram de blindar, pela Constituição, os direitos e garantias fundamentais, com livre manifestação do pensamento, direito de ir e vir, liberdade de reunião, vedação à censura, amplo direito de defesa, juiz natural, banimento de tribunal de exceção – enfim, para que nunca mais o brasileiro fosse submetido a perseguições, sem que ficasse claro o crime que tenha cometido.

Vivemos de novo aqueles tempos do filme e se olharmos para a estátua de Têmis, certamente indagaríamos sobre a isenção do fiel da balança entre acusação e defesa. Uma Têmis que é deusa de um tribunal de justiça, não de um tribunal político, como apregoam alguns de seus integrantes. Um deles chegou a expressar que o atual Presidente da República deve muito ao Tribunal. Tempos estranhos. Aplaudimos o filme que retrata um drama de 54 anos atrás; denunciamos um cisco no olho do passado, e fingimos não perceber uma trave diante dos nossos olhos – lembrando o Evangelho desse domingo.

Com o mesmo orgulho dos brasileiros, o presidente Lula aplaudiu o filme e não aproveitou a oportunidade para lamentar as semelhanças com o presente. Afinal, ele jurou defender a Constituição. Entende-se, ele está com sérios problemas de desaprovação crescente, por causa da alta dos preços e dos juros, provocada pelo desequilíbrio das contas públicas. Mas entra num círculo vicioso: em vez de cortar gastos, faz despesas populistas, como aumento do auxílio-gás, compra de aprovação na escola, chamada de pé-de-meia, ampliação de meio circulante, com crédito consignado que estimula o endividamento, entre outros. Crente de que tudo se resolve com política, chamou a deputada Presidente de seu partido para compor sua linha de frente, agora formada por Janja, Gleisi, Sidônio, Rui Costa e Lula. Fico imaginando se José Dirceu acha que vai dar certo.

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

Corrida da Rotam reúne mais de 4 mil corredores em estreia em Mato Grosso

Pela 1ª vez sendo realizada no maior espaço multieventos da América Latina, Parque Novo Mato…

Mega-Sena acumula e pagará prêmio de R$ 61 milhões no próximo sorteio

  Ninguém acertou as seis dezenas do Concurso 2.873 da Mega-Sena, sorteadas, ontem. O próximo sorteio…

Sinop: carro e carreta colidem na BR-163

A carreta bitrem e um veículo preto (marcas e modelo não identificados) colidiram, hoje, no…