No Brasil, o milho está presente em praticamente tudo: nas lavouras, nas rações, na indústria e no prato dos brasileiros. Mas, por trás da abundância desse grão, há um esforço para garantir que ele continue existindo, mesmo diante de pragas, doenças e mudanças climáticas.
Em Sete Lagoas (MG), a Embrapa Milho e Sorgo mantém o Banco Ativo de Germoplasma de Milho (BAG-Milho), uma das principais estruturas de conservação genética da América Latina. O local abriga 3.886 variedades de milho (Zea mays L) e 7 de espécies parentes silvestres, como Zea mexicana e Tripsacum dactyloides, armazenadas em câmaras frias entre 6°C e 8°C e umidade controlada de 25% a 30%.
Na prática, é um cofre biológico que protege a diversidade genética do milho, um dos cereais mais importantes do mundo.
Por que o milho precisa ser protegido
De acordo com a Embrapa, a produção moderna é baseada em poucas variedades altamente produtivas, o que aumenta a eficiência agrícola, mas também traz riscos. A uniformidade genética das cultivares atuais torna as plantações mais vulneráveis a pragas e doenças, explica o estudo da organização.
O estudo ainda aponta que as variedades crioulas e silvestres, por outro lado, carregam genes de resistência e adaptação ambiental, características essenciais para o desenvolvimento de novas cultivares em contextos de crise climática. Preservar essas sementes é uma forma de garantir o futuro da cultura e a segurança alimentar.
Esse tipo de conservação é chamado de “ex situ”, ou seja, feita fora do ambiente natural da planta, e é considerado o método mais seguro e econômico para preservar a diversidade genética de uma espécie.
Como o banco funciona
De acordo com a Embrapa, cada variedade armazenada no BAG-Milho é tratada como um patrimônio genético. As sementes são caracterizadas e avaliadas com base em 32 descritores agronômicos, como altura da planta, tamanho e formato da espiga, coloração dos grãos, número de folhas e resistência a doenças.
Quando o estoque de uma variedade fica pequeno (menos de 1 kg de sementes) ou a germinação cai abaixo de 80%, o material é regenerado em campo.
Após a colheita, as sementes passam por triagem, secagem e testes laboratoriais. Em seguida, são armazenadas novamente nas câmaras frias, em sacos de algodão, e monitoradas a cada cinco anos para verificação de umidade e viabilidade.
Resultados e avanços
Segundo a Embrapa, mesmo com limitações, os resultados do BAG-Milho são expressivos. Entre 1994 e 2003, foram caracterizadas ou regeneradas em média 188 variedades por ano. Em 1998 e 1999, o banco repatriou 1.371 amostras coletadas no Brasil na década de 1950 e mantidas no México, ampliando a diversidade da coleção nacional.
Um monitoramento realizado em 1999, com sementes armazenadas desde 1980, mostrou que 88,4% das amostras mantiveram germinação igual ou superior a 85% após 18 anos de conservação, um índice considerado de excelência mundial.
Hoje, 100% da coleção está documentada, e cerca de 60% dos acessos já foram regenerados e caracterizados. Cada semente representa um conjunto de informações genéticas que pode contribuir para o desenvolvimento de cultivares mais resistentes e produtivas.
Um patrimônio científico e cultural
O Banco Ativo de Germoplasma de Milho é também uma iniciativa de preservação cultural. As sementes crioulas armazenadas ali representam saberes tradicionais de agricultores e povos indígenas, que cultivaram o milho de formas adaptadas às suas regiões e histórias. Preservar essas variedades significa proteger identidade alimentar, diversidade biológica e soberania científica.