Vamos rezar pela Argentina, para que não tenhamos que voltar a chorar por ela. Como a maioria das pessoas que rezam pelo bem-estar de outras pessoas, se Deus atender à oração, ela também terá sido boa para as pessoas que a oferecem —você e eu.
Se o partido de Javier Milei não fracassar nas eleições para o Congresso, ele poderá continuar ressuscitando a Argentina em termos de economia. E seu sucesso encerrará definitivamente o reinado de 80 anos de Juan Perón, sob o qual todos os argentinos subsidiam e “protegem” uns aos outros por meio do governo e, portanto, todos os argentinos empobrecem. (Brasileiros, prestem atenção.)
Acontece que tratar os cidadãos como crianças os transforma em crianças. Tratá-los como adultos os torna ousados na inovação e eficazes na competição.
Um colega meu argentino, no Instituto Cato, argumenta que uma parcela um pouco menor de cadeiras no Congresso pode, na verdade, ser boa para a liberdade e a prosperidade. Milei, que ainda tem dois anos até a eleição presidencial, poderá então decidir —”Que se dane”, dirá ele— se dedicar mais à implementação de sua agenda sensata, porém radical —como permitir a flutuação do peso, dolarizar a economia ou até mesmo abolir o Banco Central.
Isso seria bom para o Brasil e os EUA, ao mostrar que uma economia livre de regulamentações arrogantes e intervenções estatais desajeitadas é boa para os brasileiros e americanos comuns. As políticas de Milei já estão funcionando bem na Argentina, e isso pode sugerir aos brasileiros que nem a direita de Bolsonaro nem a esquerda de Lula são o caminho a seguir.
E talvez demonstre o mesmo até para os americanos —embora, na verdade, os americanos achem que não podem aprender com acontecimentos em nenhum outro lugar, como a queda da Itália no fascismo em 1922 e da Alemanha em 1933, ou, na outra direção, o fantástico sucesso do livre mercado em Hong Kong, China, Irlanda e Taiwan. Nós, americanos, achamos que vivemos na Lua.
Os peronistas, que, diz-se, recebem dinheiro de Nicolás Maduro, não devem ter permissão para voltar ao governo. A oferta bizarra de Trump de dar muitos dólares para sustentar o peso até a eleição pode ter efeito negativo entre os eleitores, sendo vista como mais uma tentativa de interferir na política de outro país. É verdade que a Rússia teve um sucesso maravilhoso ao se intrometer na política americana. Mas um eleitorado mais atento que o americano médio poderia identificar melhor a corrupção.
Trump condicionando a oferta de milhões a como os argentinos votam… Isso derrubou a Bolsa, que parece acreditar que Milei perderá algumas cadeiras. Trump parece não estar ciente de que Milei é um liberal clássico, não um aliado autoritário. Ele pode estar acreditando da mesma forma que jornalistas de esquerda, por exemplo, do britânico “Guardian”, cobrem Milei.
Eles pensam na política como simplesmente um espectro da esquerda à direita —sendo a esquerda do bem e a direita do mal. Milei não é direitista, embora Trump pense que ele seja. Ele se senta na pequena casa na árvore liberal clássica, empoleirado acima do espectro, olhando com alarme para o estatismo desenfreado que permeia tudo, do comunismo ao fascismo.
Comece a rezar.
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