Todas as pesquisas sobre violência de gênero mostram que os crimes começam na fala. É no abuso verbal, no xingamento, no “cala a tua boca” que esse fio começa a ser puxado. O feminicídio não tem início com a arma, mas com a língua. Igor Eduardo Pereira Cabral, o agressor, não terá escapado dessa verdade.
Seria o caso de todos os homens bem intencionados buscarem uma compreensão de suas relações com as mulheres de suas vidas. Existe relação de poder? Existe abuso verbal? Existe ciúme? Existe sensação de posse? Se existe, você é uma arma carregada. Pode ser que o gatilho não seja puxado, mas a arma está carregada e, uma hora, a bala pode sair da agulha mesmo que você mesmo não perceba que é capaz de coisas desse tipo. Afinal, é apenas natural que não nos reconheçamos como monstros.
Homens são socializados para usarem a agressividade como prova de masculinidade e para tratarem mulheres como coisas. Se você deu seu jeito para escapar dessa socialização, você então é um potencial aliado. Nesse caso, olhe em volta e veja como são as relações dos outros. Se um amigo trata mulheres como coisas, talvez sua função seja a de alertá-lo e desarmá-lo.
O medo está na base de nosso dia a dia de mulher. E, mesmo as mais atentas entre nós, uma hora podem acabar presas dentro de um elevador com um cara normal que, do nada, vai alegar uma crise de claustrofobia e tentar sair dela esmurrando você. Com sorte, você sobreviverá para contar a história do ciúme e do descontrole. Mas quem vai acreditar em você se a defesa do agressor tiver trabalhado direitinho para mostrar, com a incrível cumplicidade da mídia, que você, afinal, até fez por merecer. Segue o jogo. Nada para ver aqui.